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Conheça as diferenças entre receitas de festas juninas do Nordeste e Sudeste

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Apesar de variações nos preparos, os ingredientes-base da culinária junina são os mesmos em todo o Brasil

As festas juninas são uma das tradições mais queridas do Brasil, celebradas com entusiasmo de Norte a Sul. No Nordeste, a força da cultura é tão marcante que, segundo a pesquisa “Cultura nas Capitais”, São Luís, no Maranhão, foi reconhecida como a capital nacional do São João. Cidades como Recife e Salvador, inclusive, revelaram que a festividade é mais esperada que o próprio Carnaval. Mas o clima junino também contagia o Sudeste, com grandes arraiás em capitais como São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte.

Com raízes anteriores à colonização, as festas juninas estão ligadas aos ciclos de plantio e colheita, segundo Eliane Morelli Abrahão, professora da Unicamp e especialista em história da alimentação. Esse vínculo com a terra explica por que os ingredientes típicos — como milho, amendoim, mandioca e batata-doce — têm origem na agricultura indígena e foram incorporados de formas diferentes pelas culturas locais ao longo dos séculos.

Ingredientes em comum, receitas com identidade

Apesar das adaptações regionais, os pratos juninos compartilham uma base em comum. O que muda, muitas vezes, é o modo de preparo, influenciado pela geografia, história e disponibilidade de ingredientes. Um bom exemplo é o uso do leite de coco nas receitas nordestinas. Em áreas onde a criação de gado era limitada, o leite de coco surgiu como substituto natural do leite comum, especialmente em regiões litorâneas.

Entre os pratos que revelam essas distinções está o arroz-doce. Enquanto no Nordeste ele é tradicionalmente feito com leite de coco, no Sudeste o leite de vaca é o ingrediente principal da receita. Essa diferença ilustra como práticas culturais e condições locais moldaram o cardápio das festas juninas.

Cuscuz: doce ou salgado?

O cuscuz é outra iguaria que varia bastante entre as regiões. A chef Helô Bacellar, do canal Na Cozinha da Helô, destaca o cuscuz paulista como um prato emblemático das festas no Sudeste. Ele é salgado, bem temperado e costuma ser servido quente, frio ou em temperatura ambiente, funcionando até como refeição principal.

Já o cuscuz nordestino é mais simples e leve, muitas vezes consumido no café da manhã com manteiga ou leite de coco. Ao longo do dia, ele pode ser servido com acompanhamentos como frango, peixe ou legumes, mantendo seu sabor suave e adaptável.

Canjica ou mungunzá? A linguagem também é regional

Além das diferenças nos preparos, os nomes dos pratos também mudam de região para região. A doce de milho cozido conhecido como canjica no Sudeste recebe o nome de mungunzá no Nordeste. Essa diferença linguística está ligada à formação cultural dos povos em cada local.

Segundo a professora Fabiane Altino, da Universidade Estadual de Londrina (UEL), o vocabulário regional reflete a história, a migração e as influências culturais que moldaram cada comunidade. A palavra “canjica”, por exemplo, tem origem no quimbundo, língua angolana, o que evidencia uma maior influência africana nas Regiões Norte e Nordeste.

Tradição viva e saborosa

Mesmo com tantas particularidades, o que une todas essas variações é a importância da comida como expressão cultural. As festas juninas são, mais do que nunca, um reflexo da diversidade do Brasil, onde cada prato conta um pedaço da história e da identidade de seu povo.

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