Donanemabe é alvo de controvérsias na comunidade médica e tem eficácia questionada
A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) aprovou nesta terça-feira (22) o primeiro medicamento indicado para o tratamento de comprometimento cognitivo leve ou demência leve associados à doença de Alzheimer em sua fase inicial sintomática.
O Kisunla (donanemabe), desenvolvido pela farmacêutica Eli Lilly, é um anticorpo monoclonal que se liga à proteína beta-amiloide. Na doença de Alzheimer, essa proteína forma placas no cérebro, e o medicamento atua justamente reduzindo esses aglomerados, com a promessa de retardar a progressão da condição.
Um estudo conduzido em oito países com 1.736 pacientes demonstrou que, após 76 semanas de uso, os indivíduos que receberam donanemabe apresentaram uma progressão clínica menor e estatisticamente significativa da doença, em comparação com os que usaram placebo.
Apesar do avanço, o uso do medicamento está cercado de controvérsias. A EMA (Agência Europeia de Medicamentos), por exemplo, recomendou recentemente a recusa do donanemabe para o tratamento do Alzheimer, citando preocupações sobre sua eficácia. Já nos Estados Unidos, o remédio foi aprovado em julho de 2023, um ano após o lecanemabe, outro fármaco com proposta semelhante.
No Brasil, a Anvisa informou que acompanhará com rigor a segurança e a efetividade do donanemabe. O medicamento será comercializado sob prescrição médica, em forma injetável, com aplicação mensal. Cada embalagem conterá uma ampola de 20 mililitros.
Contudo, o remédio não é indicado para todos os pacientes. Está contraindicado para pessoas que utilizam anticoagulantes, como varfarina, e para aquelas diagnosticadas com angiopatia amiloide cerebral. Também não deve ser usado por pacientes com o gene da apolipoproteína. Entre os efeitos colaterais mais comuns estão febre, dores de cabeça e sintomas semelhantes aos da gripe.
De acordo com o Ministério da Saúde, a doença de Alzheimer costuma evoluir lentamente e de maneira irreversível, sendo dividida em quatro estágios. No primeiro, surgem alterações de memória, personalidade e percepção espacial. O segundo envolve dificuldades para falar, realizar tarefas cotidianas e controlar movimentos. Na fase três, mais grave, há resistência a atividades básicas, incontinência e perda de coordenação motora. O último estágio é o terminal, com o paciente restrito ao leito e vulnerável a infecções.
A expectativa é que o medicamento traga novas possibilidades para o início do tratamento da doença, mesmo diante das limitações e dúvidas ainda existentes sobre sua eficácia a longo prazo.